quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O Incômodo Censo Agropecuário.


Roberto Malvezzi (Gogó) - Comissão Pastoral da Terra

O último censo agropecuário trouxe verdades incômodas, que atiçaram a ira do agronegócio brasileiro. Afinal, a pobre agricultura familiar, com apenas 24,3% (ou 80,25 milhões de hectares) da área agrícola, é responsável “por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café , 34% do arroz, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo. A cultura com menor participação da agricultura familiar foi a soja (16%). O valor médio da produção anual da agricultura familiar foi de R$ 13,99 mil”, segundo o IBGE. Quando se fala em agricultura orgânica, chega a 80%. Além do mais, provou que tem peso econômico, sendo responsável por 10% do PIB Nacional.

Acontece que a agricultura familiar, além de ter menos terras, tem menos recurso público como suporte de suas atividades. Recebeu cerca de 13 bilhões de reais em 2008 contra cerca de 100 bilhões do agronegócio. Portanto, essa pobre, marginal e odiada agricultura tem peso econômico, social e uma sustentabilidade muito maior que os grandes empreendimentos. Retire os 100 bilhões de suporte público do agronegócio e veremos qual é realmente sua sustentabilidade, inclusive econômica. Retire as unidades familiares produtivas dos frangos e suínos e vamos ver o que sobra das grandes empresas que se alicerçam em sua produção.

Mas, a agricultura familiar continua perdendo espaço. A concentração da terra aumentou e diminuiu o espaço dos pequenos. A tendência, como dizem os cientistas, parece apontar para o desaparecimento dessas atividades agrícolas.

Porém, saber produzir comida é uma arte. Exige presença contínua, proximidade com as culturas, cuidado de artesão. O grande negócio não tem o “saber fazer” dessa agricultura de pequenos. E, bom que se diga, não se constrói uma cultura de agricultura de um dia para o outro. A Venezuela, dominada secularmente por latifúndios, não é auto suficiente em nenhum produto da cesta básica. Exporta petróleo para comprar comida. Chávez, ao chegar ao poder, insiste em criar um campesinato. Mas está difícil, já que a tradição é fundamental para haver uma geração de agricultores produtores de alimentos.

O Brasil ainda tem – cada vez menos – agricultores que tem a arte de plantar e produzir comida. No Norte e Nordeste mais a tradição negra e indígena. No sul e sudeste mais a tradição européia de italianos, alemães, polacos, etc. É preciso ainda considerar a presença japonesa na produção de hortifrutigranjeiros nos cinturões das grandes cidades.

Preservar esses agricultores é preservar o “saber fazer” de produtos alimentares. Se um dia eles desaparecerem, o povo brasileiro na sua totalidade sofrerá com essa ausência. Para que eles se mantenham no campo são necessárias políticas que os apóiem ostensivamente, inclusive com subsídio, como faz a Europa.

Do contrário, se dependermos do agronegócio, vamos comer soja, chupar cana e beber etanol.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Amanhã tem feira, festa de sementes e visita!!!!

Epifania Vuaden

Engenheira Agronoma

O Grupo de Intercâmbio da Agricultura sustentável –GIAS realizará o seminário sobre Sementes crioulas (sementes tradicionais ou sementes da paixão), no STRLRV – Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde, nos dias 13 a 15 de outubro de 2009.

Mulheres guardiãs de sementes, agricultores, agricultoras, coletores e coletoras de sementes florestais do entorno das cabeceiras do Xingu, populações tradicionais da Baixada Cuiabana, jovens do Portal da Amazônia e representantes da agricultura familiar do médio norte matogressense são os convidados desta Festa das Sementes.

Nestes dias conversaremos sobre o resgate e produção de sementes tradicionais do GIAS - Resistência camponesa ao agronegócio de Mato Grosso; Lei de sementes e Mudas; lei de patentes; lei de cultivares e lei de acesso a recursos genéticos e os impactos no livre uso da agrobiodiversidade pelas comunidades locais e agricultores familiares. Também falaremos sobre estratégias locais de uso das sementes.

A Rede de coletores de sementes florestais e o Programa estadual de Agroecologia serão apresentados.

A Festa das Sementes contará com Feira de produtos da agricultura familiar nos dias 13 e 14 de outubro em frente ao STRLRV e no dia 15 iniciará a visita de intercâmbio aos projetos de alternativas ao Desmatamento e Queimadas na Riberião Grande, em Vera, Feliz Natal, Nova Ubiratã e Cláudia.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Hoje tem festa no céu!!!!


Antônio Trindade – Seo Toni, pai da Jaque e do Matheus, avô do Tiago, amoroso esposo da Geni, nos deixou ontem a noite e foi tocar gaita pros anjinhos lá no céu!

A família do Sindicato deixa aqui seu agradecimento público ao Seo Toni que sempre esteve em todos os eventos do STR, animando a tod@s solidariamente, pelo simples prazer de cantar e tocar gaita!!!

Ele ,com sua simpatia, agradava a tod@s, cantando as músicas do sul, as italianas e um dia até acompanhou Vicente cantando em alemão.

Mara Régia, rádio Nacional da Amazônia, levou “América, América,...” pra todo@s os povos da floresta ouvirem... No “Sons do Brasil Central” ele acompanha Maria Maia a cantar “Tá tudo marron” e mesmo quando já estava doente, sua música já gravada anima o cd “SOS Natureza”.

Cara Geni e família muito obrigado por nos ter permitido ter a companhia de Seo Toni nestes momentos de festa e as portas do STR estarão sempre abertas a vocês.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas sedia II Encontro de Economia


03/08/2009 - Gustavo Nascimento / Estação Vida

Entre os dias 31 de julho e 2 de agosto foi realizado no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde - STRLRV o II Encontro de Economia Solidaria. O encontro reuniu sindicatos, associações, cooperativas e parceiros da Rede BR163+Xingu.
A ideia do Encontro surgiu ainda no ano passado na II Feira de Saberes e Sabores realizada também no sindicato de Lucas do Rio Verde, nela muitas palestras e apresentações sobre economia solidária foram apresentadas, faltando um espaço para que a própria Rede pudesse explanar as suas próprias práticas e as suas dúvidas.

A partir daí a Rede BR163+Xingu firmou uma parceria com a Unemat e um curso de 120 horas foi idealizado. O curso faz parte das atividades da Campanha Y Ikatu Xingu, e foi divido em 5 módulos, este encontro é apenas o segundo, mais três módulos estão previstos até o final do ano.

Economia Solidária
A Economia Solidária é um modo interessante e produtivo das pessoas se organizarem em torno do trabalho e de tudo que este pode gerar. É um movimento de organização das microsociedades que, a partir do trabalho coletivo, passam a desenvolver formas de geração de renda, todos têm suas necessidades satisfeitas e o uso dos recursos naturais é feito de forma responsável e consciente. Os produtores e produtoras solidários se organizam em sistemas de autogestão, quem consome e quem produz entram igualmente na cadeia.

Esses empreendimentos podem ser legalizados em forma de cooperativas, associações e empresas solidárias, o que se encaixa bem no perfil dos participantes da Rede BR163+Xingu. Somente em Mato Grosso o Ministério do Trabalho já catalogou mais de 22 mil empreendimentos que podem se encaixar nestes moldes.

O curso
O curso baseia-se em palestras e apresentações mais deveres de casa, em que os participantes levam para as comunidades tudo o que foi aprendido e compartilhado e tentam aplicar as novidades dentro das próprias comunidades, trazendo os resultados para o próximo módulo.

Neste segundo módulo os assuntos principais foram a economia solidária, os custos de produção e as práticas comerciais. Os participantes aprendem noções básicas de comércio e puderam também dividir suas experiências entre si.

“O curso quer fazer com quer as práticas solidárias não entrem somente na mente, e sim no coração”, afirma Epifânia Vuaden, coordenadora da atividade. Epifânia ainda afirma que o cursotende a pôr no papel o que as próprias comunidades já tinham enraizadas dentro da própria cultura da comunidade: “O Curso é um resgate do que nós (a Rede) realmente somos: solidários”.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Rede de Sementes do Xingu reune-se na Gleba Entre Rios


Augusto Pereira - ICV

Nesse fim de semana, dias 4 e 5 de julho, agricultores e técnicos participaram do Encontro da Rede de Sementes do Xingu na BR 163. O encontro foi realizado no assentamento Entre Rios, em Nova Ubiratã, por sugestão dos próprios participantes.

Durante dois dias conheceram experiências de recuperação de mata ciliar, produção de sementes crioulas e foram recebidos nos sítios de Marçal Ribeiro e Luir Garbin. No barracão da Aproger (Associação dos Produtores Rurais da Gleba Entre Rios) aconteceram reuniões para planejar o funcionamento dessa rede que guardará sementes para troca e comercialização.

No primeiro dia Vinícius Oliveira falou da casa de sementes da comunidade Jacaminho e Iolanda Dambros falou da rede de sementes de que já participa, animada pelo Gias (Grupo de Intercâmbio da Agricultura Sustentável).

Cada agricultor presente já era um cuidador de sementes, guardava sementes de árvores, mudas, ramas de mandioca, milho crioulo e guarda o conhecimento da germinação e desenvolvimento de cada uma delas. No assentamento Entre Rios o trabalho de cuidar da natureza e da agricultura é ajudado no ar por abelhas que fazem o valioso serviço de misturar o pólen das flores. A apicultura é uma forma de renda e conservação em várias das comunidades envolvidas.

Enquanto isso, na terra firme, as agricultoras e agricultores planejaram onde serão guardadas essas sementes e quem é responsável por isso nas comunidades. Todos se comprometeram em fazer reuniões e repassar o que foi decidido no encontro. José Nicola da Costa, animador da Rede de Sementes no outro lado da Bacia do Xingu, no entorno da BR 158, falou de critérios para ser um coletor de sementes com condições de trocar e vender. A demanda por sementes cresce com a necessidade de recuperação das áreas degradadas em Mato Grosso. Para Nicola “a participação das mulheres desse lado do Xingu me surpreendeu. As pessoas usam música, são calorosas.”

Segundo Nicola, na BR 158 já tem dois anos de experiência, mas a intenção é que os dois lados caminhem juntos. Epifânia Vuaden, uma das organizadoras do evento, disse que foi um dos melhores eventos já realizados pelas comunidades rurais na região da BR 163. O STR de Lucas do Rio Verde entrou com recurso do projeto de Rede de monitoramento socioambiental dos projetos PDA/PADEQ, e todos os parceiros ajudaram de alguma forma. “Esse encontro foi possível porque vários parceiros realizaram juntos”, diz Epifânia.

No encerramento, com a Lua já no céu escurecendo, Maria Maia cantou uma de suas composições e todos a acompanharam. Maria é assentada em Peixoto de Azevedo e compõe músicas que falam da terra e da frágil relação das pessoas no ambiente. Ao final plantaram uma muda de pequi rodeada de sementes.

Também colaboraram o Instituto Centro de Vida, Instituto Socioambiental, a Associação dos Produtores Rurais da Gleba Entre Rios, o Instituto Ouro Verde, a Associação dos Agricultores Familiares Extrativistas da Ribeirão Grande, Instituto Socioambiental, Associação do PA Califórnia, GT Univida do Ena, Associação Renascer do PA Cachimbo, Assentamento Tupã, Pastoral da Juventude Rural e Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Monitor@s discutem ZSEE


Epifania Vuaden
STRLRV

No dia 01 de abril os monitores e monitoras do projeto Governança florestal nas Cabeceiras do Xingu estiveram reunidos na sede do STRLRV com lideranças de Nova Mutum, LRV, Tapurah e Itanhangá para estudar o zoneamento socioeconômico ecológico (ZSEE) do estado de MT. O Zoneamento é um instrumento técnico-político muito importante para o planejamento estratégico do ESTADO e considera a legislação vigente.


Nilfo, presidente do STRLRV e Adriana, Secretaria Executiva do FORMAD coordenaram o evento. Este foi o primeiro contato da maioria dos agricultores dos pólos Sorriso e Sinop com o ZSEE. A SEPLAN forneceu mapas e cópias da proposta de ZSEE para estudo. Como a proposta foi elaborada por técnicos agora, é chegado o momento das consultas a população ou seja os seminários preparatórios e as audiências públicas.


“Nós precisamos ocupar os espaços de tomada de decisão, mas antes temos que conhecer o conteúdo da proposta, por isso nos reunimos aqui” disse Nilfo.


As lideranças se dividiram em grupos e estudaram a proposta para sua região e em seguida apresentaram seu entendimento e fizeram suas propostas. Estas são bem diferenciadas par a pólo Sorriso e Sinop, o primeiro considerado uma região consolidada com predomínio para a agricultura moderna e a segunda requer manejos específicos onde predominam as formações florestais. “ A princípio temos vários pontos a nosso favor, mas vamos sistematizar as nossas propostas e comparecer as audiências públicas com o nosso documento elaborado” disse Adriana do FORMAD.


Agora vamos para as comunidades estudar o ZSEE, vejam as datas:



  • 06 de maio em Vera

  • 07 de maio na Entre Rios

  • 08 de maio no ENA

  • 09 de maio em Cláudia


  • 26 de maio em Marcelândia

  • 28 de maio em Peixoto

segunda-feira, 2 de março de 2009

Que planta é essa no meu quintal em Ribeirão Grande?

Que planta é essa no meu quintal em Ribeirão Grande?
Augusto Pereira, ICV

A comunidade Ribeirão Grande conseguiu um feito histórico para qualquer comunidade extrativista, realizou um levantamento florístico organizado e publicado numa cartilha. A cartilha /Que Planta é Essa no Meu Quintal?/ trás informações sobre espécies, época de florada e usos conhecidos.

Ribeirão Grande é um Assentamento localizado em Nova Mutum, médio Norte de Mato Grosso. Na comunidade foi executado o projeto Beija-Flor, financiado pelo Padeq (Projetos de Alternativa ao Desmatamento e Queimadas), Projeto Demonstrativo do Ministério do Meio Ambiente. A cartilha foi elaborada de forma conjunta por várias pessoas da comunidade, com apoio do engenheiro florestal Pablo Marimom sob orientação da bióloga Luciana Ferraz.

Segundo Epifania Vuaden, coordenadora de projetos do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde “o Beija-flor foi o único Padeq da BR 163 a incluir o levantamento florístico em seu plano de trabalho”.

As plantas foram colhidas dentro das normas de coleta em pesquisa científica e mandadas para o herbário da Universidade Federal de Mato Grosso onde foram identificadas e catalogadas por Libério Amorim, técnico responsável pelo herbário. “Encontramos e coletamos muito mais espécies, essa é só uma amostra do que tem nos nossos sítio”, diz Iolanda Dambros, presidente da Associação dos Agricultores Familiares Extrativistas da Ribeirão Grande.

A Drª Luciana Ferraz ensinou o método de coleta das plantas aos agricultores em várias oficinas na comunidade. Os homens e mulheres da Ribeirão Grande coletavam o material e enviavam para a ela em Cuiabá. Epifania diz ainda que “contratamos a consultoria da Drª Luciana Ferraz para executar o trabalho, mas ela, com sensibilidade, optou em fazer o trabalho em conjunto com os agricultores. As informações que os agricultores mandavam foram somadas com o que os pesquisadores sabiam e aí saiu a mais linda das cartilhas”.

A vegetação na Ribeirão Grande é predominantemente amazônica, apesar de geograficamente estar numa região definida como cerrado. É aprendendo o que existe de valioso perto de casa que as pessoas podem aprender o valor da floresta.