quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Agricultores assentados planejam prevenção de incêndios florestais nas cabeceiras do Xingu e BR 163.


As chuvas começaram e a umidade do ar trouxe alívio para narinas e pulmões das pessoas em Mato Grosso. Mas a chuva não pode lavar a memória recente dos incêdios que aconteceram em todo o estado. Muito menos apagar da memória dos assentados no norte de Mato Grosso na região da BR 163 e da bacia do rio Xingu.Para evitar que o desastre ambiental de setembro de 2007 se repita nos próximos anos agricultores assentados da região foram chamados ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde. Representantes de onze assentamentos em oito municípios reuniram-se, dos dias 18 e 19 de outubro de 2007, para mostrar os prejuízos ao representantes do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma agrária) e IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais).com o objetivo de construir de forma participativa o plano de Prevenção de Incêndios para 2008. O Ministério Público Estadual e a SEMA (Secretaria Estadual de Meio Ambiente) foram convidados e não compareceram.

A reunião contou com os técnicos do ICV (Instituto Centro de Vida) e do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) para mostrar as causas climáticas destes desastres ambientais e sociais. A Dr. Gina Cardinot, pesquisadora, do IPAM mostrou que o inverno de 2007 foi mais seco propiciando as condições para o desastre. Com o ar mais seco a floresta ficou mais inflamável, com mais incêndios a fumaça impediu a formação de chuvas, atrasando ainda mais o fim da seca.

Em seguida Rodrigo Marcelino, do ICV, mostrou em mapas os focos de calor registrados em setembro em Mato Grosso. Os assentados confirmaram a localização dos incêndios listados e identificaram seus sitios queimados entre outros de vizinhos. Rodrigo entregou mapas impressos a cada agricultor representante das associações presentes.

No momento posterior os depoimentos foram mais próximos ao desastre. As agricultoras e agricultores relataram a agonia de ver o incêndio chegar perto de casa. Relataram prejuizos econômicos, os ferimentos e a tristeza de ver o verde da mata se transformar em cinza. Muitos deles trouxeram Durante o depoimento dos agricultores a única representante de órgãos governamentais presente era Lucila Vargas, do INCRA. "Nos assentamentos do Norte de Mato Grosso não houve nehuma atitude dos órgãos competentes" diz Epifania Vuaden, articuladora do evento e ex-coordenadora do projeto Proteger.

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde desenvolveu nos assentamentos da região, durante dois anos, o projeto Proteger que mobilizou e capacitou agricultores para prevenção de incêndios florestais na Amazônia. Nesses dois anos foram assinados seis acordos coletivos de queimada. Um acordo coletivo é um momento em que agricultores e agricultoras decidem as regras de segurança para se fazer queimadas. Uma queimada de roça mal feita pode trazer prejuizos ao agricultor e aos vizinhos.

O STRLRV capacitou 2.600 pessoas, muitas delas tiveram seus sitios queimados. Diante desse quadro as entidades presentes à reunião assinaram o Manifesto das Lideranças das Regiões Médio-Norte e Norte de Mato Grosso pela Prevenção contra os Incêndios Criminosos. O manifesto foi imediatamente enviado para os órgãos competentes, seis dias depois somente o INCRA respondeu.

"Nosso trabalho esclaresceu as competências da SEMA e do IBAMA. Falamos bem dos órgãos do governo e dissemos que os agricultores deviam confiar e fazer denúncias às autoridades. Pra que?" questiona Epifania.


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