sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Primo do governador Blairo Maggi utiliza trabalho degradante

JOÃO CARLOS MAGALHÃES da Agência Folha

RODRIGO VARGAS da Agência Folha, em Campo Grande

O grupo móvel do Ministério do Trabalho libertou 41 trabalhadores rurais submetidos a condições degradantes em uma fazenda de Tapurah (477 km de Cuiabá) arrendada pelo grupo Bom Futuro para o plantio de soja e algodão, que tem como um de seus donos Eraí Maggi, primo do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (MT-PR).

O grupo encontrou trabalhadores em alojamentos precários, usando banheiros em péssimas condições higiênicas e manipulando produtos químicos sem proteção. Quando o agrotóxico era jogado por aviões sobre as plantações, os funcionários eram atingidos.

O Bom Futuro deve ser autuado pelas irregularidades, o que gerará multa e um processo administrativo, no qual a empresa pode se defender. Se for considerada culpada, ela é incluída na chamada "lista suja", índice que concentra as propriedades onde foi encontrado trabalho análogo à escravidão.

José Pedro dos Reis, procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso, participou da ação em Tapurah no último dia 18 e afirmou que, apesar de a empresa "ser bem estruturada", havia uma "discriminação" entre os funcionários. Os que ficavam na fazenda tinham boas condições para trabalhar, diferentemente dos que iam para o campo --como os libertados.

"Eles dormiam numa construção de madeira, uns dez homens enfiados num cubículo, deitados em colchões velhos e podres, uma salinha muito abafada e com um cheiro muito ruim", afirmou. "Até os representantes da empresa ficaram abismados com o que viram, mal conseguiram entrar no alojamento devido ao fedor."

Quando estavam na frente de trabalho, para cumprir jornadas de até 12 horas diárias, arrancando raízes ou descarregando cargas, esses funcionários eram obrigados a usar a mata como banheiro e se limpavam com o que havia à mão.

Na hora de comer, afirmou Reis, muitas vezes abriam suas marmitas com as mãos ainda sujas de agrotóxicos. Eles não usavam luvas ou botas ao manipular o produto. Uma vez terminada a jornada, tomavam banho em locais imundos, tomados por lodo e dejetos. "Eles reclamaram muito também da falta de proteção e de lugar para comer", disse Pedro dos Reis. Alguns libertados ficaram na região. Outros voltaram a seus Estados (Maranhão e Piauí).

O procurador afirmou que a empresa está com "boa vontade" e considerou a situação uma "negligência dos administradores". "Já vimos lugar muito pior." O procurador disse que foram pagos R$ 110 mil aos libertados, pelos direitos trabalhistas e por danos morais.

O Bom Futuro é um dos maiores produtores de soja e algodão do Estado. Eraí Maggi disse que o grupo já fez diversas melhorias no local. A Amaggi, uma das maiores beneficiadoras de grãos do mundo e da família do governador, disse não poder esclarecer a relação entre as duas empresas. Blairo não soube dizer se sua empresa faz negócios com o primo.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente de Lucas usa agrotóxicos em área urbana.

Augusto Pereira

A cena é difícil de acreditar: num terreno baldio rodeado de casas e estabelecimentos comerciais dois homens aplicam dessecante sobre o mato que sempre cresce em período de chuva. Mais difícil de acreditar é o fato de que a aplicação de agrotóxico é uma ação da Secretaria de Meio Ambiente e Agricultura de Lucas do Rio Verde. A aplicação se deu no início da tarde de chuva e vento nesta sexta-feira, 11 de janeiro. Lucas do Rio Verde ficou famosa na imprensa nacional pelo incidente com agrotóxicos em março de 2006 quando por uma aplicação sem controle toda a cidade foi atingida por resíduos de dessecante.

Os venenos dessecantes provocam o ressecamento de folhagens e é usado para apressar a colheita da soja. A aplicação é regulamentada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e para o tipo de veneno aplicado em Lucas, o dessecante, é necessário uma distância mínima da área urbana e de cursos de água. Além disso as condições de vento e aquipamentos de proteção individual são necessários.

Em 2006 com o incidente químico em Lucas do Rio Verde foi feita a denúncia ao ministério público. Os responsáveis pela aplicação e pela fiscalização ficaram de ser apurados, mas até hoje os prejuizos ficaram com os pequenos agricultores que perderam toda a produção.

A administração de Lucas do Rio Verde tem falado com orgulho do projeto ambiental Lucas do Rio Verde Legal, de responsabilidade da Secretaria de Meio Ambiente. O projeto visa a regularização de todas as propriedades rurais para que fiquei de acordo com o Código Florestal.

Ao mesmo tempo em que é feita a divulgação do projeto de recuperação do passivo ambiental (no que tange a cobertura vegetal nativa) acontece também outro projeto de foco ambiental. Wanderley Pignati, mestre em saúde pública da UFMT coordena a pesquisa de dados sobre a quantidade de agrotóxicos presentes nos cursos d'água, alimentos, solo e subsolo na cidade. A pesquisa é realizada por pesquisadores das universidades federais de Mato Grosso (UFMT), Mato Grosso do Sul (UFMS) e de Brasília (UnB), sob a coordenação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Mesmo diante dos acontecimentos a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente do município continua a ignorar o problema, repetindo o erro em escala concentrada e dentro do município.



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